CIDADE DIGITAL - A Tecnologia a serviço do Cidadão na Sociedade da Informação
e do Conhecimento
Claudia Regina
Castellano Losso[1]
Deborah Bernett[2]
Gisley Francisco
Baretta[3]
Resumo
O
surgimento de cidades digitais pelo mundo tem revelado dados importantes sobre
a evolução da sociedade da informação e do conhecimento. O progresso das
tecnologias de informação e comunicação - TIC tem sido utilizado para
referendar todo e qualquer projeto que contemple investimentos na área das
tecnologias e principalmente para embasar projetos de inclusão digital. O papel
do cidadão e do conhecimento nesse contexto, em alguns casos não é observado
com a devida importância e a discussão sobre o tema abre um canal para reflexão
dessa nova realidade nessa nova sociedade. Este artigo visa contribuir na
avaliação de cidades digitais já implantadas no Brasil, bem como conhecer
alguns projetos governamentais e experiências estrangeiras. Para tanto,
iniciamos o texto com uma exposição sobre a importância da globalização e das
novas formas de comunicação e mostrando a internet como principal elemento de
integração na sociedade digital. A seguir, discorremos sobre as inovações
tecnológicas nos processos produtivos e as possibilidades educativas do uso das
TIC, e por fim as formas de financiamento para a efetivação de uma cidade
digital, compreendendo sua complexidade e procurando entender qual o
papel do cidadão nesse contexto.
Palavras-chave:
Cidade digital, TIC, Conhecimento, Inclusão digital.
Abstract
The emergence of digital
cities in the world has revealed important data on the evolution of the
information and knowledge society. The advancement of the information and
communication technologies - ICT has been used to endorse any project that
includes investments in technology and mainly to bolster digital inclusion
projects. The role of the citizen and the knowledge in this context, in some
cases is not observed with due consideration and the discussion about the topic
opens a channel for reflection of this new reality in this new society. This
article aims to assist in the evaluation of digital cities have already
deployed in Brazil and know more about some government projects, and foreign
experiences. For this,
the text began with
a presentation on the importance of globalization and new
forms of communication showing the
Internet as the primary element of
integration in the digital society. Below, we talk about technological innovations
in production processes and the educational possibilities of ICT, and finally forms of financing
for the realization of a digital city, including its complexity and
trying to understand the role of the citizen in this context.
Keywords: Digital cities, ICT, Knowledge, Digital inclusion
Resumen
El
surgimiento de ciudades digitales por el mundo ha revelado datos importantes
sobre la evolución de la sociedad de la información y del conocimiento. El
progreso de las tecnologías de información y comunicación - TIC ha sido
utilizado para legalizar todo y cualquier proyecto que contemple inversiones en
la área de las tecnologías y principalmente para embasar proyectos de inclusión
digital. El papel del ciudadano y del conocimiento en ese contexto, en algunos
casos no es observado con la debida importancia y la discusión sobre lo tema
abre un canal para ponderación de esa nueva realidad en esa nueva sociedad.
Este artículo visa aportar en la evaluación de ciudades digitales ya
implantadas, bien como conocer algunos proyectos gubernamentales y experiencias
extranjeras. Para tanto, iniciamos el texto con una exposición sobre la
importancia de la globalización y de las nuevas formas de comunicación y
mostrando el internet como principal elemento de integración en la sociedad
digital. A continuación, discurrimos sobre las innovaciones tecnológicas en los
procesos productivos y las posibilidades educativas del uso de las TIC, y por
fin las formas de financiación para a efetivação de una ciudad digital,
comprendiendo su complejidad y buscando entender cuál el papel del ciudadano en
ese contexto.
Palabras clave: Ciudad Digital, TIC, Conocimiento, Inclusión
digital.
1. As TIC no mundo globalizado
“O
mundo é plano”. O título do best-seller de Thomas L. Friedman já dá pistas de
como as transformações tecnológicas e de comunicação vêm contribuindo com o
achatamento do planeta, aproximando pessoas, rompendo fronteiras e quebrando
paradigmas. O livro relata como a globalização e as tecnologias estão
modificando as relações comerciais e sociais no mundo inteiro e em especial na
Índia e na China. O mundo e a sociedade não são mais os mesmos. Durante a
história da humanidade, a sociedade tem acompanhando a transformação e evolução
dos instrumentos, das técnicas, do trabalho e do pensamento.
Com
a evolução das tecnologias de informação e comunicação – TIC, invadindo os
lares, nossas instituições, as empresas, o mundo vem se transformando,
configurando novas formas de comunicação e interferindo nas relações sociais.
As organizações também sofreram grandes mudanças alterando sua forma de
produção e organização para maior competitividade. Muitos autores afirmam que
as sociedades que incorporam essas tecnologias conseqüentemente impulsionam a
economia local melhorando a qualidade de vida de seus cidadãos. Também crêem
que os benefícios dos resultados do uso das TIC e principalmente da internet,
podem trazer à tona uma sociedade transformada, a sociedade do conhecimento na
qual a tecnologia está fortemente aliada ao sentido de democracia
possibilitando o pleno exercício da cidadania. Nesse contexto, as cidades que
proporcionarem aos seus cidadãos acesso às redes de informação e conhecimento
podem organizar e acelerar o processo de inclusão digital por meio do
planejamento do uso das tecnologias.
As
mudanças rápidas nas tecnologias vêm afetando o dia a dia das pessoas mais
comuns até nas grandes organizações. O apelo das tecnologias tem influenciado
de forma determinante as relações sociais e de trabalho e praticamente qualquer
atividade de comunicação é regulada pelas TIC. Mandar uma mensagem e-mail
via internet se tornou uma tarefa rotineira entre crianças e adultos, mudando
para sempre a forma de se comunicarem. Chats, fóruns, e-learning,
e-commerce, cursos a distância mediados pelo computador,
vídeo-conferêrencia em tempo real e outras possibilidades de uso das TIC, são
tecnologias usadas em empresas, escolas, residências em todo mundo fazendo com
que milhões de pessoas possam estar de alguma maneira conectadas e criando
novas formas de trabalho, informação, lazer e conhecimento.Todas essas
alterações dos meios de comunicação afetam a sociedade, antes definida pelo
poder do capital e determinada pela revolução industrial e que agora caminha em
direção de uma sociedade do conhecimento e da informação.
Castells
(1999) diz que a internet é uma verdadeira revolução na sociedade, pois através
dela novas relações sociais se estabelecem alterando de forma qualitativa as
geografias sociais. Fronteiras não mais existem e os fatos acontecem quase ao
mesmo tempo da sua divulgação, fazendo com que a história aconteça agora apenas
a um simples click de um site ou
portal. A velocidade é a marca dessa sociedade e o acesso às informações é
imediato. As relações sociais saem do real e se transportam para o virtual criando uma
rede ilimitada de fluxo de informações na denomindada WEB 2.0[4].
O
conceito WEB 2.0 cunhado por Tim O’Reilly é hoje o mais utilizado na
rede mundial de computadores, onde a participação do usuário tem o espírito da
colaboração e participação, interferindo e modificando espaços virtuais,
decidindo como e quando participar. Comunidades virtuais e de prática surgem
unindo pessoas com mesmos objetivos e interesses, agregando valor às suas
práticas sociais.
Para
Castells, em sua obra “A Galáxia Internet – Reflexões sobre Internet, Negócios
e Sociedade” (2004), o autor comenta que pessoas, instituições, empresas e a
sociedade em geral, “transformam a tecnologia apropriando-a, modificando-a e
experimentando-a – especialmente no caso da Internet, por ser uma tecnologia de
comunicação". A nova sociedade e a internet convertem-se num “instrumento
para a organização social, a da ação coletiva e a da construção de sentido”
(Id, 2004, pg. 76). A internet é o
exemplo máximo da tecnologia sendo a própria sociedade. Ela é revolucionária no
sentido de ampliar possibilidades de uma nova interação entre tecnologia e
sociedade surgindo daí um novo modelo sócio-técnico. (CASTELLS, 2004)
Muitos autores como Pierre Lévy
(1990, 1997, 2001) e David Lyon (1992) comungam
do mesmo pensamento de Castells quando este diz que o homem é um ser
sócio-técnico, produto da relação entre a tecnologia e sociedade. Essa relação
de mútua transformação e influência é dialética, pois o homem, em suas
atividades interfere nos processos de comunicação, mas também sofre essa
interferência. “A internet transforma o modo como comunicamos, as nossas vidas
vêm-se profundamente afetadas por esta tecnologia de comunicação"
(CASTELLS, 2004, pg. 19).
A
internet tem ocupado todos os espaços de comunicação e os cidadãos já sofrem os
impactos das novas TIC com maior ou menor grau. Das grandes às pequenas cidades
o acesso à internet está cada vez maior no Brasil e no mundo. O acesso discado
deu lugar às redes de fibra ótica que integram sistemas de governo, redes de
pesquisa, educação e saúde levando acesso às zonas mais distantes. Conexões via
satélite também são soluções encontradas para localidades onde não há
infraestrutura física que suporte as novas tecnologias, em ações governamentais
ou não.
Segundo
Silveira (2001), a internet tem oferecido um ótimo caminho para a gestão do
conhecimento, mais que as outras mídias, convida a um permanente processo de
aprendizado e se integra, por seu dinamismo, às necessidades das instituições
de promoverem um clima de colaboração e de intercâmbio de idéias e
conhecimento, que caracterizam o novo contexto organizacional baseado na
informação e no conhecimento.
Além
de quebrar barreiras geográficas e estabelecer espaços de diálogo, Terra e
Gordon (2002) colocam que, a internet oferece oportunidades síncronas e
assíncronas para que as pessoas se encontrem, compartilhem informações e
opiniões, façam apresentações ou até mesmo votem ou tomem decisões
colaborativas em tempo real.
O exemplo de uma proposta de
utilização das TIC em benefícios sociais e econômicos vem dos países da União
Européia. Para combater o desemprego e na busca de uma maior competitividade
esses países apostam numa sociedade economicamente forte baseada na inovação e
no conhecimento. Para tanto, metas foram determinadas pelo Conselho da Europa
de Lisboa realizado em 2000, para a intensificação dos esforços de educação e
de formação para a união européia, a fim de assegurar o sucesso da integração
das tecnologias digitais na sociedade e de valorizar todo o seu potencial. O
compromisso era de, até 2010, tornar a Europa mais competitiva e mais dinâmica
utilizando-se a economia do conhecimento.
utilizando-se a economia do conhecimento.
Governantes europeus acreditam que
as potencialidades das tecnologias podem ser exploradas de forma a fomentar o
desenvolvimento da sociedade, além disso, acreditam que essa sociedade baseada
no conhecimento poderá, com o uso das TIC, crescer qualitativamente tanto no
âmbito social como econômico. Apostando nesse novo paradigma propõem um novo modelo de desenvolvimento econômico que
tem como base quatro fatores essenciais: ciência e inovação, tecnologia,
empreendedorismo, necessários para o sucesso do programa, e capital humano como
principal motor e possibilitar a superação das dificuldades sociais, e trazer
qualidade de vida aos cidadãos.
Abaixo
uma figura que representa o modelo de desenvolvimento proposto pela comissão da
Unidade Européia:
Figura
1 - Adaptado de Angel Landabaso - Conselheiro C & T da Delegação da
Comissão Européia no Brasil
Uso
de inovações tecnológicas nos processos produtivos é uma exigência do mercado
altamente competitivo. Empresas que conseguem manter-se no mercado estão sempre
inovando nos serviços e nos processos para garantir um lugar de destaque e sua
própria sobrevivência. O uso das TIC nesse momento é fundamental para definir o
futuro das organizações sendo que a boa gestão desses recursos tecnológicos só
vem afirmar sua importância nesse novo contexto. As exigências para atuar nesse
mercado também aumentaram com a necessidade de mão de obra qualificada, onde o
conhecimento é fator fundamental para o sucesso profissional. Queiroz (2003,
pg. 28) afirma que “o conhecimento hoje é o fator de produção determinante da
formação do valor nas organizações e somente as informações e dados
contextualizados pela realidade local geram conhecimento”.
2. Cenário de
mudanças
As
novas formas de comunicação se configuram num momento de total transformação e
com o advento da internet e das novas TIC, o sujeito passa a ser o
informatizado, conectado, e digitalmente socializado. Mas as diferenças sociais
e as possibilidades de acesso à rede trouxeram também uma nova situação de
exclusão, só que agora a digital, ou seja, a infoexclusão. O Brasil ainda não
despontou nas soluções de inclusão digital apesar dos diversos programas
governamentais os quais analisaremos mais a frente, e milhões de brasileiros
ainda continuam sem computador em casa.
Mesmo
assim, o Brasil vem crescendo em número de usuários da internet e já aparece
entre os maiores no ranking mundial na Internet World Stats, instituição
internacional que disponibiliza dados atualizados sobre o uso da
Internet no mundo. Durante os últimos anos pesquisas apontam um vertiginoso
crescimento no uso da internet no Brasil, fazendo com esses índices ultrapassem
até mesmo países altamente desenvolvidos.
Quadro I - Crescimento da Internet no Brasil[5]
Ano
|
Usuários
- Milhão
|
População
%
|
Fonte
|
2000
|
5,0
|
2.9
|
|
2005
|
25,9
|
14.1
|
|
2006
|
32,13
|
17.2
|
|
2007
|
42,6
|
22.8
|
I.T. U.
|
2008
|
50,0
|
26.1
|
I.T. U.
|
Dados da Internet World Stats vêm de instituições como a I.T.U. sediada em Genebra, na Suíça, instituição mundial de análise de indicadores de uso de tecnologias, com 191 países membros e 700 membros setoriais e associações.
A
publicação The Global Information
Society: a Statistical View, que disponibiliza dados sobre a sociedade da
informação no mundo, informa que o uso de aparatos tecnológicos pelos
brasileiros em 2005 está classificado da seguinte maneira:
Quadro II – Uso de aparatos tecnológicos no
Brasil[8]
Equipamento/tecnologia
|
população
|
Rádio
|
88%
|
TV
|
91%
|
Telefone Fixo
|
48%
|
Telefone Móvel
|
59%
|
Computador
|
19%
|
Eletricidade
|
97%
|
Internet
|
14%
|
O
IBGE, a partir de um convênio com o Comitê Gestor da Internet no Brasil —
CGI.br — coletou dados a partir de indicadores sobre a utilização das
tecnologias da informação e das comunicações no País tanto para o entendimento
do contexto nacional como também à comparação internacional de estatísticas
sobre a sociedade da informação. Esses indicadores são balizados pela Cúpula Mundial
da Sociedade da Informação (World Summit on the Information Society – WSIS)
os quais fornecem um panorama real sobre o quadro de inclusão digital mundial.
Os
dados coletados pelo IBGE de 2010 ainda não foram divulgados na íntegra,
portanto utilizamos os dados de 2005 que demonstram o crescimento do número de
usuários, bem como qual o uso e local de acesso. Percebe-se nesses números que apesar da incrível disparidade entre incluídos e
excluídos digitalmente, o crescimento de usuários na rede indica a urgente necessidade de políticas de
integração e acesso pelos governos estadual e federal.
O
uso da internet na educação é o maior responsável pela inclusão digital de
alunos e professores, fato que reflete positivamente na comunidade onde a
escola, com suas salas informatizadas está inserida. O Governo Federal iniciou
esse processo a partir do Programa Nacional de Informática na Educação –
PROINFO, no final da década de 90 e já alcançou a maior parte das escolas
brasileiras. Com a possibilidade de acesso à internet pelas escolas, o uso das
salas informatizadas ficou mais atraente aos professores e alunos, mas ainda é
muito limitada no uso pela comunidade. O que poderia ser um excelente fator de
inclusão digital, não acontece devido ao fato de as escolas terem poucos
computadores disponíveis e pela falta de pessoal capacitado para orientação,
além de poucos horários para assistência aos usuários externos à escola.
Ainda
assim, os 14 % de brasileiros com acesso doméstico utilizam a internet para
educação, em tarefas e pesquisas nos diferentes níveis de ensino, conforme o
quadro abaixo demonstra:
Gráfico I - Percentual das
pessoas que utilizaram a Internet em 2005 para cada finalidade, na população de
10 anos ou mais de idade que utilizou a Internet, no período de referência dos
últimos três meses, por finalidade do acesso à Internet, segundo as Unidades da
Federação e as Regiões Metropolitanas.
.
Fonte:
IBGE - Pesquisa nacional por amostra de domicílios 2005.
Os
acessos domésticos somam 50% da população de conectados e o acesso do trabalho
vem em seguida com 39 %. Os que utilizam espaços públicos ainda somam 28 %,
número que pode mudar com a implantação de melhores programas de inclusão
digital e também com as cidades digitais que disponibilizam espaços de acesso
gratuito. Os dados do IBGE também apontam a informação que a maioria dos
internautas utiliza a conexão discada, o
que, além da instabilidade do sinal e baixa velocidade, encarece muito o custo
da conexão, dificultando ainda mais a inclusão digital.
Em
se tratando de inclusão digital, o Governo Federal tem apoiado a implantação de
telecentros distribuídos país, e ONGs também colaboram para o crescimento do
número de usuários aos serviços disponíveis, sendo que a maioria dessas
instituições se concentra em grandes centros urbanos. O Brasil já conta com
mais de cinco mil centros de inclusão digital ou telecentros espalhados pelo
território que auxiliam cidadãos no exercício de sua cidadania e proporcionam capacitação
para jovens e adultos visando aperfeiçoamento tecnológico na busca de qualidade
para a vida profissional. No Programa Federal Governo Eletrônico, o
Serviço de Atendimento ao Cidadão – GESAC,
também leva internet via satélite a pontos distantes da zona urbana, em
escolas, postos de saúde e instalações militares, comunidades indígenas, etc.
3. Cidade Digital
Muitas regiões pelo mundo já estão
integradas ao mundo digital, onde vários serviços ao cidadão são
disponibilizados pelo acesso a rede mundial de computadores via rádio, sem fio WI-FI
ou por Wimax, integrando outras tecnologias disponíveis e utilizando
a infra-estrutura já existente. Disponibilizando serviços aos cidadãos e acesso
gratuito à internet, a maioria dessas cidades já usufrui dos benefícios de uma
sociedade informatizada e contabiliza o sucesso na inclusão digital.
Mas o que é afinal uma Cidade
Digital? Como definir a interação entre
as cidades contemporâneas e as redes digitais de comunicação e informação?
Alvin Toffler (1984) em sua obra “A
terceira onda”, discorre o processo irreversível de transformação da sociedade
devido as tecnologias de informação e comunicação e sobre a importância do mundo altamente
industrializado em convivência com a desigualdade social. Ele considera a
cidade digital como o estágio evolutivo de capacitação de uma comunidade num
sistema tecnológico de informação, cujo objetivo final é atingir a
reestruturação interativa da vida social.
Para
Firmino (2003), cidade digital é a adoção de tecnologias telemáticas
como parte do processo de planejamento ou consolidação de políticas públicas
ligadas ao desenvolvimento tecnológico. Segundo Zancheti (2001), a cidade
digital é considerada um sistema de pessoas e instituições conectadas por uma
infra-estrutura de comunicação digital (a Internet) que tem como referência uma
cidade real cujos propósitos variam e podem incluir um ou mais dos seguintes
objetivos:
Criar um espaço de manifestação política e cultural das pessoas e
grupos; Criar um canal de comunicação entre as pessoas e grupos; Criar canais de comunicação e negociação
entre a administração municipal e os cidadãos; Favorecer uma maior
identificação dos moradores e visitantes com a cidade referência; Criar um
acervo de informações das mais variadas espécies e de fácil acesso sobre a
cidade referência. (ZANCHETI, 2001)
Manuel Castells (1989) falando sobre
as cidades digitais afirma que ela se mistura e se sobrepõe à “cidade
tradicional” formando em conjunto o que chama de cidade informacional, isto é,
a cidade atual.
As cidades digitais emergem como uma
alternativa de potencializar o território de modo complementar à organização
das cidades reais. Em escala planetária, algumas iniciativas são referências e
foram idealizadas para atender a comunidade em rede, virtualmente criada de
acordo com as necessidades de cada comunidade real. (SILVA, 2004).
Em Portugal, um exemplo de sucesso
vem dos programas apoiados pelo Programa Operacional Sociedade do Conhecimento
2000 – 2006 (POS-Conhecimento), o Programa "Cidades e Regiões
Digitais", destinado a projetos integrados onde podem participar diversas
entidades tanto no âmbito regional como local. Este Programa é a continuação da
primeira etapa, o Programa Operacional para a Sociedade de Informação (POSI), e
pretende contribuir decisivamente para a modernização das regiões e das
administrações municipais. O Projeto Aveiro Digital 2003-2006 é um exemplo de
como o governo pode interferir nesse processo planejando o uso das TIC para
impulsionar o desenvolvimento local e regional. O custo do projeto foi de € 22
milhões, e a contrapartida da comunidade de cerca de € 10 milhões. São 11
municípios envolvidos em diferentes subprojetos: 1 - Comunidade Digital; 2 -
Autarquias e serviços Conselhos; 3 - Escolas e Comunidades Educativas; 4 -
Universidade e Comunidade Universitária; 5 - Serviços de Saúde; 6 -
Solidariedade Social; 7 - Tecido Produtivo; 8 - Informação, Cultura e Lazer.
No Brasil, os programas federais de
inclusão digital estão ainda na fase de projetos piloto para avaliação e
validação das tecnologias utilizadas. Alguns poucos municípios estão totalmente
inseridos no mundo digital, dentre eles a cidade de Tiradentes em Minas Gerais
e Piraí no Rio de Janeiro. Outros
municípios estão listados e devem fazer parte de uma nova fase do projeto
coordenado pelo Ministério das Comunicações - MINICOM. Para o governo federal o
foco está na gestão moderna de serviços para a população, além de objetivar a
redução de custos na administração pública, integrando em rede as instituições
municipais.
Ainda
não há, por parte do governo federal, uma linha de financiamento específica
para a difusão das cidades digitais, portanto as demais iniciativas de
implantação estão por conta de cada município interessado e alguns já
implantados mostram resultados muito satisfatórios como, por exemplo, Porto
Alegre no Rio Grande do Sul, Vitória no Espírito Santo e Sidmenuci em São
Paulo. Em Santa Catarina, a cidade de Piratuba inaugurou em fevereiro de
2011seu projeto de inclusão digital, denominado “Piratuba Digital” visando
atender cerca de 700 famílias que habitam a área rural do município. Para isso
a prefeitura assumiu a conta de R$ 1,1 milhão com recursos próprios e contará
com 25 antenas instaladas em pontos estratégicos do município.
As cidades
interessadas na implantação de uma rede digital pública, sabem que um projeto
dessa intensidade requer uma constante manutenção na infra-estrutura, equipe
técnica, provedores e atualização tecnológica, o que demanda recursos
financeiros importantes. Uma solução que
está ao alcance de todos os municípios está no momento da formulação do plano
diretor dos municípios brasileiros. Para tanto, o plano diretor que planeja
todo o desenvolvimento que se deseja para a cidade, deve ser aprovado por lei
municipal, sendo o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão
urbana e nele se pode prever a construção de uma cidade digital encontrando
legalmente condições financeiras dentro do Plano Plurianual (PPA), na Lei de
Diretrizes Orçamentárias e no orçamento anual do município. O plano diretor é
previsto desde a Constituição Brasileira de 1988 e regulamentado pelo Estatuto
das Cidades (Lei 10.257/2001).
Além de integrar as estruturas
tributária, financeira e administrativa, alguns municípios já oferecem a
internet gratuita mediante a assiduidade nos pagamentos de taxas municipais e
têm tido grande adesão. Os projetos visam a melhoria da gestão pública, a
cidadania com a instalação de infra-estrutura de acesso, telecentros de
inclusão digital e de acesso a serviços por parte dos cidadãos. Na saúde, a
inovação consiste no uso da videoconferência e telemedicina, além de facilitar
a marcação de consultas. O acesso à internet sem fio para pequenas empresas
oferece melhoria de processos e serviços, e a telefonia VoIP diminui
consideravelmente custos tanto para o setor privado quanto para o público. A
segurança, que é uma das grandes preocupações dos administradores públicos,
fica mais efetiva com a interligação de órgãos via computadores, como as
polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros, e a instalação de câmeras de
vigilância via internet em pontos mais perigosos e vulneráveis da cidade.
A educação é uma das maiores
beneficiadas nesse processo, sendo que as escolas com o acesso a internet podem
se integrar a outras instituições de pesquisa e ensino. A educação
informatizada e conectada na rede mundial, de modo geral amplia os horizontes
escolares, proporciona espaços de interação e colaboração, cria redes de
conhecimento e geram fluxos de informação importantes ao desenvolvimento
acadêmico e individual do estudante e de toda a comunidade escolar.
4.
Considerações finais
De acordo com o exposto, os diversos
conceitos de cidade digital não se distanciam, mas se complementam. Os projetos
de cada região ou município vão depender do grau de desenvolvimento social e
econômico no qual se encontram, da infra-estrutura existente e das políticas de uso das
tecnologias . Num planejamento urbano-tecnológico o que se deve levar em conta
no uso das TIC são as pessoas, os cidadãos, seu bem estar social, visando a
implantação de uma verdadeira sociedade do conhecimento. Para tanto, deve ser
considerada a população com um todo, sem distinção de classe social ou
econômica, e fundamentalmente preparar as pessoas para o uso das tecnologias
para inclusão digital.
Concluindo, cidades que não fizerem uso dos recursos
tecnológicos disponíveis, tendem a ficar à margem do desenvolvimento econômico
e deixam seus cidadãos, principalmente os socialmente menos favorecidos, fora
da sociedade da informação. Porém, projetos de uso das TIC bem estruturados e
planejados podem ser um propulsor de desenvolvimento local e regional. Os
objetivos propostos numa cidade digital devem contemplar, entre outros, os
setores públicos e privados. No setor empresarial deve visar melhores
oportunidades de negócios e agilizar processos; impulsionar e melhorar a gestão
pública para atendimento e serviços aos cidadãos, que compõem a saúde, a
educação a segurança e lazer, além de propiciar espaços para capacitar e formar
todos os interessados no uso das TIC.
Uma cidade digital pressupõe um “cidadão digital” e para
isso é preciso a apropriação social da tecnologia pelo indivíduo, por isso o
foco no cidadão. A tecnologia é somente o meio e não o fim. Projetos desse
âmbito devem pensar na qualidade de vida, na competitividade econômica e na
integração social. Devem levar em conta a vontade da população e suas
necessidades, a vocação local, as expectativas do setor produtivo e também
pensar na reorganização de espaços físicos e virtuais além das reais
competências dos indivíduos.
Ainda é precoce avaliar os reais resultados da cidade
digital para a sociedade, mas sendo o uso das TIC um processo irreversível, é
preciso refletir e sobre os projetos governamentais que estão sendo
implantados, analisar e compreender sua complexidade e entender qual o papel do
cidadão nesse contexto. Devemos conhecer os projetos, discutir, analisar o tema
e como cidadãos colaborarmos nesse processo, já que a principal meta deve ser a
integração dos indivíduos à sociedade do conhecimento.
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Programa Sociedade da Informação - The Global Information Society: a Statistical View. Disponível em < http://www.eclac.org/socinfo/elac/> Acessado em 20 de outubro de 2010.
ZANCHETI, Sílvio Mendes. Cidades digitais e o
desenvolvimento local. Em: RECITEC, Recife, v.5, n.2, p.311-329, 2001.
Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/rtec/art/art-029r.html > Acessado em:
04/07/2011.
[1] Mestranda em Educação Comunicação e Tecnologia – Linha
Pesquisa educação, comunicação e tecnologia. PPGE UDESC|Brasil e-mail: claudiarcl@yahoo.com.br
[2] Doutoranda em PGEGC - Engenharia e Gestão do
Conhecimento – EGC UFSC| Brasil. Linha Pesquisa Gestão do Conhecimento. e-mail: bbyde@hotmail.com
[3] Doutorando em Administração - UNaM/Argentina. Linha de Pesquisa
Gestão do Conhecimento. e-mail: gisley_87@hotmail.com
[4] WEB 2.0 - O termo Web 2.0 é a segunda
geração de comunidades e serviços da plataforma Web baseadas em folksonomia
e redes sociais.O termo não se refere à atualização nas suas especificações
técnicas, mas a uma mudança na forma como ela é percebida por usuários e desenvolvedores.
[5] Fonte:
http://www.internetworldstats.com/sa/br.htm
[7]
CIAlmanac - Computer Industry Almanac Inc.( http://www.c-i-a.com/) – publica relatórios de
pesquisa de Mercado para a indústria de
PC, Internet e wireless.
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