sexta-feira, 6 de junho de 2014

CIDADE DIGITAL - A Tecnologia a serviço do Cidadão na Sociedade da Informação e do Conhecimento



CIDADE DIGITAL - A Tecnologia a serviço do Cidadão na Sociedade da Informação e do Conhecimento
Claudia Regina Castellano Losso[1]
Deborah Bernett[2]
Gisley Francisco Baretta[3]
Resumo
O surgimento de cidades digitais pelo mundo tem revelado dados importantes sobre a evolução da sociedade da informação e do conhecimento. O progresso das tecnologias de informação e comunicação - TIC tem sido utilizado para referendar todo e qualquer projeto que contemple investimentos na área das tecnologias e principalmente para embasar projetos de inclusão digital. O papel do cidadão e do conhecimento nesse contexto, em alguns casos não é observado com a devida importância e a discussão sobre o tema abre um canal para reflexão dessa nova realidade nessa nova sociedade. Este artigo visa contribuir na avaliação de cidades digitais já implantadas no Brasil, bem como conhecer alguns projetos governamentais e experiências estrangeiras. Para tanto, iniciamos o texto com uma exposição sobre a importância da globalização e das novas formas de comunicação e mostrando a internet como principal elemento de integração na sociedade digital. A seguir, discorremos sobre as inovações tecnológicas nos processos produtivos e as possibilidades educativas do uso das TIC, e por fim as formas de financiamento para a efetivação de uma cidade digital, compreendendo sua complexidade e procurando entender qual o papel do cidadão nesse contexto.
Palavras-chave: Cidade digital, TIC, Conhecimento, Inclusão digital.
Abstract
The emergence of digital cities in the world has revealed important data on the evolution of the information and knowledge society. The advancement of the information and communication technologies - ICT has been used to endorse any project that includes investments in technology and mainly to bolster digital inclusion projects. The role of the citizen and the knowledge in this context, in some cases is not observed with due consideration and the discussion about the topic opens a channel for reflection of this new reality in this new society. This article aims to assist in the evaluation of digital cities have already deployed in Brazil and know more about some government projects, and foreign experiences. For this, the text began with a presentation on the importance of globalization and new forms of communication showing the Internet as the primary element of integration in the digital society. Below, we talk about technological innovations in production processes and the educational possibilities of ICT, and finally forms of financing for the realization of a digital city, including its complexity and trying to understand the role of the citizen in this context.
Keywords: Digital cities, ICT, Knowledge, Digital inclusion
Resumen
El surgimiento de ciudades digitales por el mundo ha revelado datos importantes sobre la evolución de la sociedad de la información y del conocimiento. El progreso de las tecnologías de información y comunicación - TIC ha sido utilizado para legalizar todo y cualquier proyecto que contemple inversiones en la área de las tecnologías y principalmente para embasar proyectos de inclusión digital. El papel del ciudadano y del conocimiento en ese contexto, en algunos casos no es observado con la debida importancia y la discusión sobre lo tema abre un canal para ponderación de esa nueva realidad en esa nueva sociedad. Este artículo visa aportar en la evaluación de ciudades digitales ya implantadas, bien como conocer algunos proyectos gubernamentales y experiencias extranjeras. Para tanto, iniciamos el texto con una exposición sobre la importancia de la globalización y de las nuevas formas de comunicación y mostrando el internet como principal elemento de integración en la sociedad digital. A continuación, discurrimos sobre las innovaciones tecnológicas en los procesos productivos y las posibilidades educativas del uso de las TIC, y por fin las formas de financiación para a efetivação de una ciudad digital, comprendiendo su complejidad y buscando entender cuál el papel del ciudadano en ese contexto.
Palabras clave: Ciudad Digital, TIC, Conocimiento, Inclusión digital.
1. As TIC no mundo globalizado
            “O mundo é plano”. O título do best-seller de Thomas L. Friedman já dá pistas de como as transformações tecnológicas e de comunicação vêm contribuindo com o achatamento do planeta, aproximando pessoas, rompendo fronteiras e quebrando paradigmas. O livro relata como a globalização e as tecnologias estão modificando as relações comerciais e sociais no mundo inteiro e em especial na Índia e na China. O mundo e a sociedade não são mais os mesmos. Durante a história da humanidade, a sociedade tem acompanhando a transformação e evolução dos instrumentos, das técnicas, do trabalho e do pensamento.
            Com a evolução das tecnologias de informação e comunicação – TIC, invadindo os lares, nossas instituições, as empresas, o mundo vem se transformando, configurando novas formas de comunicação e interferindo nas relações sociais. As organizações também sofreram grandes mudanças alterando sua forma de produção e organização para maior competitividade. Muitos autores afirmam que as sociedades que incorporam essas tecnologias conseqüentemente impulsionam a economia local melhorando a qualidade de vida de seus cidadãos. Também crêem que os benefícios dos resultados do uso das TIC e principalmente da internet, podem trazer à tona uma sociedade transformada, a sociedade do conhecimento na qual a tecnologia está fortemente aliada ao sentido de democracia possibilitando o pleno exercício da cidadania. Nesse contexto, as cidades que proporcionarem aos seus cidadãos acesso às redes de informação e conhecimento podem organizar e acelerar o processo de inclusão digital por meio do planejamento do uso das tecnologias.  
            As mudanças rápidas nas tecnologias vêm afetando o dia a dia das pessoas mais comuns até nas grandes organizações. O apelo das tecnologias tem influenciado de forma determinante as relações sociais e de trabalho e praticamente qualquer atividade de comunicação é regulada pelas TIC. Mandar uma mensagem e-mail via internet se tornou uma tarefa rotineira entre crianças e adultos, mudando para sempre a forma de se comunicarem. Chats, fóruns, e-learning, e-commerce, cursos a distância mediados pelo computador, vídeo-conferêrencia em tempo real e outras possibilidades de uso das TIC, são tecnologias usadas em empresas, escolas, residências em todo mundo fazendo com que milhões de pessoas possam estar de alguma maneira conectadas e criando novas formas de trabalho, informação, lazer e conhecimento.Todas essas alterações dos meios de comunicação afetam a sociedade, antes definida pelo poder do capital e determinada pela revolução industrial e que agora caminha em direção de uma sociedade do conhecimento e da informação.
            Castells (1999) diz que a internet é uma verdadeira revolução na sociedade, pois através dela novas relações sociais se estabelecem alterando de forma qualitativa as geografias sociais. Fronteiras não mais existem e os fatos acontecem quase ao mesmo tempo da sua divulgação, fazendo com que a história aconteça agora apenas a um simples click de um site ou portal. A velocidade é a marca dessa sociedade e o acesso às informações é imediato. As relações sociais saem do real e se transportam para o virtual  criando uma  rede ilimitada de fluxo de informações na denomindada WEB 2.0[4]. 
            O conceito WEB 2.0 cunhado por Tim O’Reilly é hoje o mais utilizado na rede mundial de computadores, onde a participação do usuário tem o espírito da colaboração e participação, interferindo e modificando espaços virtuais, decidindo como e quando participar. Comunidades virtuais e de prática surgem unindo pessoas com mesmos objetivos e interesses, agregando valor às suas práticas sociais.
            Para Castells, em sua obra “A Galáxia Internet – Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade” (2004), o autor comenta que pessoas, instituições, empresas e a sociedade em geral, “transformam a tecnologia apropriando-a, modificando-a e experimentando-a – especialmente no caso da Internet, por ser uma tecnologia de comunicação". A nova sociedade e a internet convertem-se num “instrumento para a organização social, a da ação coletiva e a da construção de sentido” (Id, 2004, pg. 76).     A internet é o exemplo máximo da tecnologia sendo a própria sociedade. Ela é revolucionária no sentido de ampliar possibilidades de uma nova interação entre tecnologia e sociedade surgindo daí um novo modelo sócio-técnico. (CASTELLS, 2004)
            Muitos autores como Pierre Lévy (1990, 1997, 2001) e David Lyon (1992) comungam  do mesmo pensamento de Castells quando este diz que o homem é um ser sócio-técnico, produto da relação entre a tecnologia e sociedade. Essa relação de mútua transformação e influência é dialética, pois o homem, em suas atividades interfere nos processos de comunicação, mas também sofre essa interferência. “A internet transforma o modo como comunicamos, as nossas vidas vêm-se profundamente afetadas por esta tecnologia de comunicação" (CASTELLS, 2004, pg. 19).
            A internet tem ocupado todos os espaços de comunicação e os cidadãos já sofrem os impactos das novas TIC com maior ou menor grau. Das grandes às pequenas cidades o acesso à internet está cada vez maior no Brasil e no mundo. O acesso discado deu lugar às redes de fibra ótica que integram sistemas de governo, redes de pesquisa, educação e saúde levando acesso às zonas mais distantes. Conexões via satélite também são soluções encontradas para localidades onde não há infraestrutura física que suporte as novas tecnologias, em ações governamentais ou não.
            Segundo Silveira (2001), a internet tem oferecido um ótimo caminho para a gestão do conhecimento, mais que as outras mídias, convida a um permanente processo de aprendizado e se integra, por seu dinamismo, às necessidades das instituições de promoverem um clima de colaboração e de intercâmbio de idéias e conhecimento, que caracterizam o novo contexto organizacional baseado na informação e no conhecimento.
            Além de quebrar barreiras geográficas e estabelecer espaços de diálogo, Terra e Gordon (2002) colocam que, a internet oferece oportunidades síncronas e assíncronas para que as pessoas se encontrem, compartilhem informações e opiniões, façam apresentações ou até mesmo votem ou tomem decisões colaborativas em tempo real.
            O exemplo de uma proposta de utilização das TIC em benefícios sociais e econômicos vem dos países da União Européia. Para combater o desemprego e na busca de uma maior competitividade esses países apostam numa sociedade economicamente forte baseada na inovação e no conhecimento. Para tanto, metas foram determinadas pelo Conselho da Europa de Lisboa realizado em 2000, para a intensificação dos esforços de educação e de formação para a união européia, a fim de assegurar o sucesso da integração das tecnologias digitais na sociedade e de valorizar todo o seu potencial. O compromisso era de, até 2010, tornar a Europa mais competitiva e mais dinâmica
utilizando-se a economia do conhecimento.
            Governantes europeus acreditam que as potencialidades das tecnologias podem ser exploradas de forma a fomentar o desenvolvimento da sociedade, além disso, acreditam que essa sociedade baseada no conhecimento poderá, com o uso das TIC, crescer qualitativamente tanto no âmbito social como econômico. Apostando nesse novo paradigma propõem um novo modelo de desenvolvimento econômico que tem como base quatro fatores essenciais: ciência e inovação, tecnologia, empreendedorismo, necessários para o sucesso do programa, e capital humano como principal motor e possibilitar a superação das dificuldades sociais, e trazer qualidade de vida aos cidadãos.
            Abaixo uma figura que representa o modelo de desenvolvimento proposto pela comissão da Unidade Européia:
Figura 1 - Adaptado de Angel Landabaso - Conselheiro C & T da Delegação da Comissão Européia no Brasil
            Uso de inovações tecnológicas nos processos produtivos é uma exigência do mercado altamente competitivo. Empresas que conseguem manter-se no mercado estão sempre inovando nos serviços e nos processos para garantir um lugar de destaque e sua própria sobrevivência. O uso das TIC nesse momento é fundamental para definir o futuro das organizações sendo que a boa gestão desses recursos tecnológicos só vem afirmar sua importância nesse novo contexto. As exigências para atuar nesse mercado também aumentaram com a necessidade de mão de obra qualificada, onde o conhecimento é fator fundamental para o sucesso profissional. Queiroz (2003, pg. 28) afirma que “o conhecimento hoje é o fator de produção determinante da formação do valor nas organizações e somente as informações e dados contextualizados pela realidade local geram conhecimento”. 
2. Cenário de mudanças
            As novas formas de comunicação se configuram num momento de total transformação e com o advento da internet e das novas TIC, o sujeito passa a ser o informatizado, conectado, e digitalmente socializado. Mas as diferenças sociais e as possibilidades de acesso à rede trouxeram também uma nova situação de exclusão, só que agora a digital, ou seja, a infoexclusão. O Brasil ainda não despontou nas soluções de inclusão digital apesar dos diversos programas governamentais os quais analisaremos mais a frente, e milhões de brasileiros ainda continuam sem  computador em casa.
            Mesmo assim, o Brasil vem crescendo em número de usuários da internet e já aparece entre os maiores no ranking mundial na Internet World Stats,  instituição  internacional que disponibiliza dados atualizados sobre o uso da Internet no mundo. Durante os últimos anos pesquisas apontam um vertiginoso crescimento no uso da internet no Brasil, fazendo com esses índices ultrapassem até mesmo países altamente desenvolvidos.
Quadro I - Crescimento da Internet no Brasil[5]
Ano
Usuários - Milhão
População %
Fonte
2000
5,0
2.9
2005
25,9
14.1
2006
32,13
17.2
2007
42,6
22.8
2008
50,0
26.1

            Dados da Internet World Stats vêm de instituições como a I.T.U. sediada em Genebra, na Suíça, instituição mundial de análise de indicadores de uso de tecnologias, com 191 países membros e 700 membros setoriais e associações.
            A publicação The Global Information Society: a Statistical View, que disponibiliza dados sobre a sociedade da informação no mundo, informa que o uso de aparatos tecnológicos pelos brasileiros em 2005 está classificado da seguinte maneira:
Quadro II – Uso de aparatos tecnológicos no Brasil[8]
Equipamento/tecnologia
população
Rádio
88%
TV
91%
Telefone Fixo   
48%
Telefone Móvel 
59%
Computador 
19%
Eletricidade
97%
Internet
14%

            O IBGE, a partir de um convênio com o Comitê Gestor da Internet no Brasil — CGI.br — coletou dados a partir de indicadores sobre a utilização das tecnologias da informação e das comunicações no País tanto para o entendimento do contexto nacional como também à comparação internacional de estatísticas sobre a sociedade da informação. Esses indicadores são balizados pela Cúpula Mundial da Sociedade da Informação (World Summit on the Information Society – WSIS) os quais fornecem um panorama real sobre o quadro de inclusão digital mundial.
            Os dados coletados pelo IBGE de 2010 ainda não foram divulgados na íntegra, portanto utilizamos os dados de 2005 que demonstram o crescimento do número de usuários, bem como qual o uso e local de acesso. Percebe-se  nesses números que apesar da incrível disparidade entre incluídos e excluídos digitalmente, o crescimento de usuários na rede  indica a urgente necessidade de políticas de integração e acesso pelos governos estadual e federal.
            O uso da internet na educação é o maior responsável pela inclusão digital de alunos e professores, fato que reflete positivamente na comunidade onde a escola, com suas salas informatizadas está inserida. O Governo Federal iniciou esse processo a partir do Programa Nacional de Informática na Educação – PROINFO, no final da década de 90 e já alcançou a maior parte das escolas brasileiras. Com a possibilidade de acesso à internet pelas escolas, o uso das salas informatizadas ficou mais atraente aos professores e alunos, mas ainda é muito limitada no uso pela comunidade. O que poderia ser um excelente fator de inclusão digital, não acontece devido ao fato de as escolas terem poucos computadores disponíveis e pela falta de pessoal capacitado para orientação, além de poucos horários para assistência aos usuários externos à escola.
            Ainda assim, os 14 % de brasileiros com acesso doméstico utilizam a internet para educação, em tarefas e pesquisas nos diferentes níveis de ensino, conforme o quadro abaixo demonstra:
Gráfico I - Percentual das pessoas que utilizaram a Internet em 2005 para cada finalidade, na população de 10 anos ou mais de idade que utilizou a Internet, no período de referência dos últimos três meses, por finalidade do acesso à Internet, segundo as Unidades da Federação e as Regiões Metropolitanas.
.  
Fonte: IBGE - Pesquisa nacional por amostra de domicílios 2005.
            Os acessos domésticos somam 50% da população de conectados e o acesso do trabalho vem em seguida com 39 %. Os que utilizam espaços públicos ainda somam 28 %, número que pode mudar com a implantação de melhores programas de inclusão digital e também com as cidades digitais que disponibilizam espaços de acesso gratuito. Os dados do IBGE também apontam a informação que a maioria dos internautas utiliza  a conexão discada, o que, além da instabilidade do sinal e baixa velocidade, encarece muito o custo da conexão, dificultando ainda mais a inclusão digital.
            Em se tratando de inclusão digital, o Governo Federal tem apoiado a implantação de telecentros distribuídos país, e ONGs também colaboram para o crescimento do número de usuários aos serviços disponíveis, sendo que a maioria dessas instituições se concentra em grandes centros urbanos. O Brasil já conta com mais de cinco mil centros de inclusão digital ou telecentros espalhados pelo território que auxiliam cidadãos no exercício de sua cidadania e proporcionam capacitação para jovens e adultos visando aperfeiçoamento tecnológico na busca de qualidade para a vida profissional. No Programa Federal Governo Eletrônico, o Serviço de Atendimento ao Cidadão – GESAC, também leva internet via satélite a pontos distantes da zona urbana, em escolas, postos de saúde e instalações militares, comunidades indígenas, etc.
3. Cidade Digital
            Muitas regiões pelo mundo já estão integradas ao mundo digital, onde vários serviços ao cidadão são disponibilizados pelo acesso a rede mundial de computadores via rádio, sem fio WI-FI ou por Wimax, integrando outras tecnologias disponíveis e utilizando a infra-estrutura já existente. Disponibilizando serviços aos cidadãos e acesso gratuito à internet, a maioria dessas cidades já usufrui dos benefícios de uma sociedade informatizada e contabiliza o sucesso na inclusão digital.
            Mas o que é afinal uma Cidade Digital?  Como definir a interação entre as cidades contemporâneas e as redes digitais de comunicação e informação?
            Alvin Toffler (1984) em sua obra “A terceira onda”, discorre o processo irreversível de transformação da sociedade devido as tecnologias de informação e comunicação  e sobre a importância do mundo altamente industrializado em convivência com a desigualdade social. Ele considera a cidade digital como o estágio evolutivo de capacitação de uma comunidade num sistema tecnológico de informação, cujo objetivo final é atingir a reestruturação interativa da vida social.
            Para Firmino (2003), cidade digital é a adoção de tecnologias telemáticas como parte do processo de planejamento ou consolidação de políticas públicas ligadas ao desenvolvimento tecnológico. Segundo Zancheti (2001), a cidade digital é considerada um sistema de pessoas e instituições conectadas por uma infra-estrutura de comunicação digital (a Internet) que tem como referência uma cidade real cujos propósitos variam e podem incluir um ou mais dos seguintes objetivos:
Criar um espaço de manifestação política e cultural das pessoas e grupos; Criar um canal de comunicação entre as pessoas e grupos;  Criar canais de comunicação e negociação entre a administração municipal e os cidadãos; Favorecer uma maior identificação dos moradores e visitantes com a cidade referência; Criar um acervo de informações das mais variadas espécies e de fácil acesso sobre a cidade referência. (ZANCHETI, 2001)
            Manuel Castells (1989) falando sobre as cidades digitais afirma que ela se mistura e se sobrepõe à “cidade tradicional” formando em conjunto o que chama de cidade informacional, isto é, a cidade atual.
            As cidades digitais emergem como uma alternativa de potencializar o território de modo complementar à organização das cidades reais. Em escala planetária, algumas iniciativas são referências e foram idealizadas para atender a comunidade em rede, virtualmente criada de acordo com as necessidades de cada comunidade real. (SILVA, 2004).
            Em Portugal, um exemplo de sucesso vem dos programas apoiados pelo Programa Operacional Sociedade do Conhecimento 2000 – 2006 (POS-Conhecimento), o Programa "Cidades e Regiões Digitais", destinado a projetos integrados onde podem participar diversas entidades tanto no âmbito regional como local. Este Programa é a continuação da primeira etapa, o Programa Operacional para a Sociedade de Informação (POSI), e pretende contribuir decisivamente para a modernização das regiões e das administrações municipais. O Projeto Aveiro Digital 2003-2006 é um exemplo de como o governo pode interferir nesse processo planejando o uso das TIC para impulsionar o desenvolvimento local e regional. O custo do projeto foi de € 22 milhões, e a contrapartida da comunidade de cerca de € 10 milhões. São 11 municípios envolvidos em diferentes subprojetos: 1 - Comunidade Digital; 2 - Autarquias e serviços Conselhos; 3 - Escolas e Comunidades Educativas; 4 - Universidade e Comunidade Universitária; 5 - Serviços de Saúde; 6 - Solidariedade Social; 7 - Tecido Produtivo; 8 - Informação, Cultura e Lazer.
            No Brasil, os programas federais de inclusão digital estão ainda na fase de projetos piloto para avaliação e validação das tecnologias utilizadas. Alguns poucos municípios estão totalmente inseridos no mundo digital, dentre eles a cidade de Tiradentes em Minas Gerais e Piraí no Rio de Janeiro.  Outros municípios estão listados e devem fazer parte de uma nova fase do projeto coordenado pelo Ministério das Comunicações - MINICOM. Para o governo federal o foco está na gestão moderna de serviços para a população, além de objetivar a redução de custos na administração pública, integrando em rede as instituições municipais.
            Ainda não há, por parte do governo federal, uma linha de financiamento específica para a difusão das cidades digitais, portanto as demais iniciativas de implantação estão por conta de cada município interessado e alguns já implantados mostram resultados muito satisfatórios como, por exemplo, Porto Alegre no Rio Grande do Sul, Vitória no Espírito Santo e Sidmenuci em São Paulo. Em Santa Catarina, a cidade de Piratuba inaugurou em fevereiro de 2011seu projeto de inclusão digital, denominado “Piratuba Digital” visando atender cerca de 700 famílias que habitam a área rural do município. Para isso a prefeitura assumiu a conta de R$ 1,1 milhão com recursos próprios e contará com 25 antenas instaladas em pontos estratégicos do município.
            As cidades interessadas na implantação de uma rede digital pública, sabem que um projeto dessa intensidade requer uma constante manutenção na infra-estrutura, equipe técnica, provedores e atualização tecnológica, o que demanda recursos financeiros importantes.  Uma solução que está ao alcance de todos os municípios está no momento da formulação do plano diretor dos municípios brasileiros. Para tanto, o plano diretor que planeja todo o desenvolvimento que se deseja para a cidade, deve ser aprovado por lei municipal, sendo o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana e nele se pode prever a construção de uma cidade digital encontrando legalmente condições financeiras dentro do Plano Plurianual (PPA), na Lei de Diretrizes Orçamentárias e no orçamento anual do município. O plano diretor é previsto desde a Constituição Brasileira de 1988 e regulamentado pelo Estatuto das Cidades  (Lei 10.257/2001). 
            Além de integrar as estruturas tributária, financeira e administrativa, alguns municípios já oferecem a internet gratuita mediante a assiduidade nos pagamentos de taxas municipais e têm tido grande adesão. Os projetos visam a melhoria da gestão pública, a cidadania com a instalação de infra-estrutura de acesso, telecentros de inclusão digital e de acesso a serviços por parte dos cidadãos. Na saúde, a inovação consiste no uso da videoconferência e telemedicina, além de facilitar a marcação de consultas. O acesso à internet sem fio para pequenas empresas oferece melhoria de processos e serviços, e a telefonia VoIP diminui consideravelmente custos tanto para o setor privado quanto para o público. A segurança, que é uma das grandes preocupações dos administradores públicos, fica mais efetiva com a interligação de órgãos via computadores, como as polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros, e a instalação de câmeras de vigilância via internet em pontos mais perigosos e vulneráveis da cidade.
            A educação é uma das maiores beneficiadas nesse processo, sendo que as escolas com o acesso a internet podem se integrar a outras instituições de pesquisa e ensino. A educação informatizada e conectada na rede mundial, de modo geral amplia os horizontes escolares, proporciona espaços de interação e colaboração, cria redes de conhecimento e geram fluxos de informação importantes ao desenvolvimento acadêmico e individual do estudante e de toda a comunidade escolar.
4. Considerações finais
            De acordo com o exposto, os diversos conceitos de cidade digital não se distanciam, mas se complementam. Os projetos de cada região ou município vão depender do grau de desenvolvimento social e econômico no qual se encontram, da infra-estrutura  existente e das políticas de uso das tecnologias . Num planejamento urbano-tecnológico o que se deve levar em conta no uso das TIC são as pessoas, os cidadãos, seu bem estar social, visando a implantação de uma verdadeira sociedade do conhecimento. Para tanto, deve ser considerada a população com um todo, sem distinção de classe social ou econômica, e fundamentalmente preparar as pessoas para o uso das tecnologias para inclusão digital.
            Concluindo, cidades que não fizerem uso dos recursos tecnológicos disponíveis, tendem a ficar à margem do desenvolvimento econômico e deixam seus cidadãos, principalmente os socialmente menos favorecidos, fora da sociedade da informação. Porém, projetos de uso das TIC bem estruturados e planejados podem ser um propulsor de desenvolvimento local e regional. Os objetivos propostos numa cidade digital devem contemplar, entre outros, os setores públicos e privados. No setor empresarial deve visar melhores oportunidades de negócios e agilizar processos; impulsionar e melhorar a gestão pública para atendimento e serviços aos cidadãos, que compõem a saúde, a educação a segurança e lazer, além de propiciar espaços para capacitar e formar todos os interessados no uso das TIC.
            Uma cidade digital pressupõe um “cidadão digital” e para isso é preciso a apropriação social da tecnologia pelo indivíduo, por isso o foco no cidadão. A tecnologia é somente o meio e não o fim. Projetos desse âmbito devem pensar na qualidade de vida, na competitividade econômica e na integração social. Devem levar em conta a vontade da população e suas necessidades, a vocação local, as expectativas do setor produtivo e também pensar na reorganização de espaços físicos e virtuais além das reais competências dos indivíduos.
            Ainda é precoce avaliar os reais resultados da cidade digital para a sociedade, mas sendo o uso das TIC um processo irreversível, é preciso refletir e sobre os projetos governamentais que estão sendo implantados, analisar e compreender sua complexidade e entender qual o papel do cidadão nesse contexto. Devemos conhecer os projetos, discutir, analisar o tema e como cidadãos colaborarmos nesse processo, já que a principal meta deve ser a integração dos indivíduos à sociedade do conhecimento.
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[1] Mestranda em Educação Comunicação e Tecnologia – Linha Pesquisa educação, comunicação e tecnologia. PPGE UDESC|Brasil e-mail: claudiarcl@yahoo.com.br
[2] Doutoranda em PGEGC - Engenharia e Gestão do Conhecimento – EGC UFSC| Brasil. Linha Pesquisa Gestão do Conhecimento.  e-mail: bbyde@hotmail.com
[3] Doutorando em Administração - UNaM/Argentina. Linha de Pesquisa Gestão do Conhecimento. e-mail: gisley_87@hotmail.com
[4] WEB 2.0 - O termo Web 2.0 é  a segunda geração de comunidades e serviços da plataforma Web baseadas em folksonomia e redes sociais.O termo não se refere à atualização nas suas especificações técnicas, mas a uma mudança na forma como ela é percebida  por usuários e desenvolvedores.
[5] Fonte: http://www.internetworldstats.com/sa/br.htm
[6] ITU - International Telecommunication Union (http://www.itu.int/net/home/index.aspx)
[7] CIAlmanac - Computer Industry Almanac Inc.( http://www.c-i-a.com/) – publica relatórios de pesquisa de Mercado para  a indústria de PC, Internet e wireless.

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